terça-feira, 23 de novembro de 2010

Confissão de um Beatlemaníaco.

Perdoem-me a tietagem, mas era necessário =]


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"Mas uma coisa que ninguém nunca vai entender é que a lua é maior que tudo, não é, cara?"

Foi assim que se deu início, para mim, o show de Sir Paul McCartney dia 21 de novembro. Um cidadão que já havia passado do ponto há algum tempo proferiu tal poesia bem ao meu lado. Foi o primeiro momento de estranheza. Primeiro e último. Quando as luzes se apagaram, e apenas a lua – que é maior que tudo – passou a iluminar a multidão no estádio do Morumbi, não havia estranhezas. Havia sonho, nostalgia e delírio.

O velinho estava esbanjando simpatia. No auge de seus 68 anos, Paul McCartney comandou uma noite recheada de sucessos dos Beatles, do Wings e de sua carreira solo. Mesclou com perfeição clássicos como "Eleanor Rigby", "Band on the Run" e "Jet" com pérolas raras como "Nineteen Hundred and Eighty-five" e a ótima "Dance Tonight", música mais nova de seu repertório tocado. Em todas as 37 músicas, a aceitação do público foi total.

"Vocês estão bem? Estão aproveitando? Porque nós estamos!" O português arranhado de Paul cativava todo o ambiente, e foi determinante em alguns momentos onde a comoção foi geral. "Essa música eu escrevi para minha gatinha Linda, mas hoje dedico para todos os namorados". E soavam ao piano os primeiros Acordes de "My Love", acompanhados de milhares de isqueiros e celulares. Só não mais que em "Let it Be", obviamente.

"Esta canção eu escrevi para meu querido amigo John". Antes mesmo de "Here today" começar a ser tocada, (para mim, o ponto alto da noite), a platéia já entoava suspiros e não continha as lágrimas. Mas nem eu, tampouco a senhora do meu lado que soluçava com sinceridade sabíamos que ainda estavam por vir as maiores homenagens da noite.

Pausa dramática. Logo após desfacelar a multidão com uma bela versão de "Eleanor Rigby", o palco demora um pouco mais a se acender. Uma luz , então, incide diretamente sobre o microfone principal e Paul surge com um cavaquinho. Sorri e estuda o público. Cada alma naquele estádio sabia que estávamos próximos a algo grande.

Com acordes mais rápidos, e lembrando um samba, Paul puxa uma versão completamente diferente de "Something", cantando graciosamente o riff com sua voz impecavelmente afinada. A versão apenas com cavaquinho dura pouco mais de um minuto, e quase induz a platéia a dançar. Quando, como quem prega uma peça de surpresa, uma guitarra ruge com toda a força as notas mais famosas da carreira de George Harrison, ao mesmo tempo que um vídeo-homenagem sincero brota no telão. Lágrimas e mais lágrimas.

A homenagem a John ficou por conta de "Give Peace a Chance", entoada como um hino logo após "A Day in the life". Daí pra frente, só clássicos. "Hey Jude" fechou o repertório, e a todos esperavam um bis no mínimo eterno. Paul voltou, presenteou-nos com três Beatles: "Day Tripper", "Lady Madonna" e "Get Back". Saiu. Voltou para "Yesterday", e o clima nostálgico ficou ainda mais intenso com o sentimento de final de show. Num último suspiro, MaCCa levantou a galera com "Helter Skelter", lembrando a todos que os Beatles sabiam ser pesados. E não havia melhor modo de fechar a conta do que com "The End". O fim do show do maior astro pop de todos os tempos, que se mostrou humano também, tomando um tombo ao tropeçar em uma caixa de som. Levantou. Sorriu. Arrancou gritos da platéia. E se foi.

E tarde da noite, olho a minha volta e encontro o louco que havia comentado sobre a lua, andando no meio da multidão. Uma multidão que deixava o estádio realizada, tranqüila. E acima de tudo, feliz.

domingo, 21 de novembro de 2010

Lou Reed, o fracasso?

Ontem rolou um dos shows mais esperados desse final de semana, Lou Reed. Seria o repertório só do "Metal Music Machine" de 1975, ou seja, bem experimental e cheio de improvisações. E foi o que aconteceu e o que as pessoas não gostaram. Em mais ou menos 30 minutos de show, dezenas de pessoas começaram a abandonar o teatro. Uma mulher ao sair chegou até a gritar "Fuck You". Apesar de muita gente ter ido embora, a grande maioria ficou até o final do espetáculo. 

Eu estava lá e presenciei tudo. Acho que o grande problema de tudo isso foi a esperança, e eu entendo. Sou uma das pessoas que não gostam do álbum Metal Music Machine e que esperava ansiosamente alguma música do Velvet Underground ou de algum álbum solo dele. Essa música veio e já ganhei o dia com "I'll be your mirror" acústica do Velvet Underground como bis. O problema era aguentar 1 hora e pouco de metal machine... 


O show em si foi muito bom, cheio de improvisações, empolgação, amor pela música. Tenho que destacar a performance do saxofonista que foi genial, o cara tocava demais. Quem curte o álbum, saiu com os olhos cheios de lágrimas. Eu sai com os olhos cheios de lágrima só pelo fato de estar a menos de 10 metros de um cara que me influenciou muito em todos os aspectos.

Independente de achar o álbum bom ou não, sou a favor do respeito. O SESC deixou BEM claro que seria somente o álbum citado; não sei o porque de tanta polêmica e desrespeito. Creio que todas as pessoas que abandonaram o show compraram o ingresso porque foi extremamente barato, ou porque não tiveram o mínimo interesse de saber sobre o conteúdo do show antes de comprar. Não sei como será o show de hoje e se a aceitação será maior, mas só sei de uma coisa: foi desnecessário o comportamento das pessoas.


Pra quem não foi, fica aqui meu singelo vídeo do bis que, certamente, agradou a todos:
Lou Reed - I'll be your mirror (câmera escondida)

Obs: o sesc proibiu tirar fotos e filmagem, mas não adiantou muito.
foto minha/filmagem minha

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Shows do Final de Semana - Nov #3

Sexta-feira, 19 de novembro:
The Raveonettes no Sesc Pompéia - São Paulo, SP
Preço: R$32,00 (inteira), R$16,00 (usuário matriculado no Sesc e dependentes, +60anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$8,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes). [ESGOTADOS]
Horário: 22h.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=182877

Stop Play Moon no Studio SP - São Paulo, SP
Preço: Gratuito.
Horário: 22h.
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20101119cs.php


Sábado, 20 de novembro:
Cidadão Instigado no Studio SP - São Paulo, SP
Preço: R$25 ou R$20 com nome na lista.
Horário: 1h.
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20101120.php

FESTIVAL PLANETA TERRA no Playcenter - São Paulo, SP
Preço: [ESGOTADOS]
Horário: a partir das 17h.
Mais informações: http://musica.terra.com.br/planetaterra/2010

Lou Reed no Sesc Pinheiros - São Paulo, SP
Preço: R$40,00 (inteira), R$20,00 (usuário matriculado no Sesc e dependentes, +60anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$10,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes). [INGRESSOS ESGOTADOS]
Horário: 21h30.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=182876


Domingo, 21 de novembro:
Lou Reed no Sesc Pinheiros - São Paulo, SP
Preço: R$40,00 (inteira), R$20,00 (usuário matriculado no Sesc e dependentes, +60anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$10,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes). [INGRESSOS ESGOTADOS]
Horário: 21h30.

Paul McCartney no Estádio do Morumbi - São Paulo, SP
Preço: Pista Premium R$700
Pista normal e cadeira inferior R$300
Cadeira coberta vermelha R$450
Cadeira coberta laranja R$400
Cadeira premium laranja R$450
Cadeira premium azul e coberta azul R$450
Arquibancada especial vermelha R$180
Arquibancada vermelha e azul R$160 
Horário: 21h30

Vivendo do Ócio, The Salad Maker, Vinda e The Limousine Drivers no Hangar 110 - São Paulo, SP
Preço: antecipado R$10
na porta R$15 
Horário: 19h.
Mais informações: http://www.hangar110.com.br/

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Deus e o diabo no liquidificador (2010)

"Deus e o diabo no liquidificador" é o terceiro álbum da banda Cérebro Eletrônico. Recentemente lançado, ele conta com 11 faixas e com participações especiais de Hélio Flanders (Vanguart), Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Carlos Zimbher, Gustavo Galo (Trupe Chá de Boldo), Dudu Tsuda (teclado), Guilherme Calzavara (trompete), Maurício Fleury (teclado), Isidoro Cobra (voz), Alfredo Bello (moog e voz), Ana Elisa Colomar (violoncelo), Cíntia Zanco (violino) e Marcelo Monteiro (sax e flauta).

As famosas perguntas como: "A letras são boas?" ou "O intrumental é bacana?" são muito bem respondidas pela banda desde o primeiro álbum, onde a sonoridade estava mais voltada ao rock eletrônico. Ótimas letras muito bem sincronizadas com os ritmos e melodias. Aliás, ótimas melodias.

Esse disco, particularmente, é o mais roqueiro e o menos eclético da discografia da banda. Guitarras com o mesmo padrão mesmo em momentos mais leves do álbum como Realejo em Dó, Cama, Sóbrio e Só. Os detalhes são bem intrigantes. Mesmo nessas músicas que pedem uma leveza maior, o instrumental não soa nem um pouco cafona.


As letras são histórias e conclusões de Tatá Aeroplano, que por sinal, são muito bem desenvolvidas. Letras românticas como "Cama" onde ele só sai da cama quando a amada dizer que o ama, um ménage a trois na "Os Dados Estão Lançados", a perda da decência e a moral com a mulher e o zelador em "Decência" ou a lucidez em "Sóbrio e Só". Um liquidificador de temas. Até as mulheres freqüentadoras da Rua Augusta (SP) entraram nesse disco na faixa "Garota Estereótipo": "Olhos vermelhos, papo retrô, sorriso seco, lembro de você Dalí Brístol."

Outro álbum bem-sucedido da banda foi o "Pareço Moderno" de 2008, que rendeu vários elogios, prêmios e participações em festivais do lado de atrações internacionais.

Nesse álbum não é só Deus e o Diabo que estão no liquidificador, e sim a história do rock inteira, desde a tropicália até o pop rock dos anos 80.


- Faixas:
01) Decência
02) Cama
03) O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco
04) Os Dados Estão Lançados
05) Garota Estereótipo
06) 220v
07) Sóbrio e Só
08) Desestabelecerei
09) Desquite
10) Realejo em Dó
11) Deus e o Diabo no Liquidificador


-Outros Álbuns:
Pareço Moderno (2008)
Onda Híbrida Ressonante (2005)


- Mais informações:
cerebroeletronico.com
myspace.com/cerebroeletronico


Cérebro Eletrônico - Pareço Moderno

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Shows do Fim de Semana - Nov #2

Sexta-feira, 12 de novembro:
Miranda Kassin no Comitê Club - São Paulo, SP
Preço: R$30.
Horário: 0h.
Mais informações: http://www.comiteclub.com.br/programacao/miranda_kassin3.html

Thiago Giglio no Studio SP - São Paulo, SP
Lançamento oficial do CD.
Preço: gratuito.
Horário: 22h.
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20101112cs.php

VANG BEATS: Vanguart & convidados tocando Beatles - São Paulo, SP
Preço: R$25.
Horário: 1h.
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20101112.php

Sábado, 13 de novembro:
Garotas Suecas no CCSP - São Paulo, SP
Preço: R$10 inteira, R$5 meia.
Horário: 19h.
Mais informações: http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao_musica_popular.asp

Thiago Pethit no Studio SP - São Paulo, SP
Preço: R$25 inteira, R$15 lista.
Horário: 1h.
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20101113.php

Mombojó no Auditório Ibirapuera - São Paulo, SP
Preço: R$30 inteira, R$15 meia-entrada.
Horário: 21h.
Mais informações: http://www.auditorioibirapuera.com.br/detalhe_eventos.aspx?id=593


Domingo, 14 de novembro:
Norah Jones no Parque da Independência - São Paulo, SP
Preço: gratuito.
Horário: 16h.
Mais informações: http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/09/norah-jones-faz-show-de-graca-em-novembronorah-jones-faz-show-de-graca-em-novembro/

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Dia Depois de Amanhã

Já fui fã de Green Day, e digo 'já fui' do modo mais nostálgico que meus 17 anos permitem. Não parei de ouvi-los com afinco por algum motivo específico, somente me aconteceu, meu gosto musical me levou para outro lado. Mas sempre sobra aquele carinho contido.

Não mais ouvir não significa, nem de longe, não admirar. Correndo pelos canais da televisão, algum desses dias pré-show, me deparo com uma entrevista da banda. Billie Joe e sua trupe pareciam em sua melhor forma, dizendo que em seu show rolaria de tudo, e que era uma ótima chance que tinham de mostrar seus protestos para o Brasil.

Protestos?

Isso mesmo, protestos.

Porque não importa o que digam, o Green Day é uma das poucas bandas que conseguiu unir com perfeição engajamento político e cultura pop. Mesmo com os fãs mais aguerridos dizendo 'Credo, eles não são mais os mesmos, viraram uns emos...'

Eu nem sei direito o que são emos, então não vou gastar nem mais um parágrafo com eles.

Mas emos ou não, eu sei que o Green Day lançou um dos poucos discos da 'nova geração do rock' que dava um tapa na cara da sociedade. Isso certamente se perdeu no rock e na música atual. Não dá pra generalizar, nunca, mas é fato que, segundo a mídia, ser POP é sinônimo de ser 'bonzinho', e ser 'bonzinho' não é só não quebrar quarto de hotel nem falar palavrão. Ser bonzinho é ficar quieto no próprio canto falando de amores, desamores e dinheiro.

Para colocar em prática essa ideologia, a indústria musical arranjou a fórmula mais infalível possível: transformar astros da Disney em ícones da música, e então, de uma hora pra outra, nossos rádios, TV's e prateleiras de discos (bem como sites de downloads, sem hipocrisia) estavam lotados de Justin Bieber e Miley Cyrus. E muitos outros, claro. Milhões de artistas mirins, com uma platéia jovem avassaladora.

É bem verdade que, a maior parte dessa platéia é composta por pré-adolescentes que ainda não chegaram aos 14 anos. Mas mesmo os jovens entre 15 e 25 anos, que outrora eram os Paralamas e os Titãs, não tem uma representação musical totalmente engajada. Aliás, a maioria dessas pessoas nem ouve rock, suspeito.

Porque só aqui em São Paulo, nos lugares que freqüento (que não representam nem um décimo da cidade) abriram pelo menos dez casas de pagode no último ano. Todas igualmente lotadas.

Alguém já viu pagode falar sobre política, sociedade ou protesto?

Pois é. Nem eu.

E mesmo que Bieber e Cyrus seja coisa de criança, pergunte a qualquer um que mudou o mundo um dia, o que ouvia na infância. Garanto a vocês, que mesmo em seus 14 anos, essas pessoas ouviam algo próximo ao que o Green Day faz até hoje (sem querer compará-los aos Pistols ou ao Pink Floyd, claro).

Não que eu vá mudar o mundo por ouvir Green Day. Longe disso.

Mas minha nostalgia é válida, penso. Não saudade de escutar as músicas da infância, mas saudades de uma época que não vivi, na qual música, na sua mais pura forma, não era só arte pela arte.

Uma época na qual música era arte pela arte, pela sociedade, por direitos. Uma época na qual música era arte pela vida.

Desliguei a TV após a entrevista, com uma pontinha de orgulho e medo. Porque toda geração tem medo que a próxima destrua tudo o que a sua própria fez pela música.

Mas dessa vez, nem a minha fez muito. Pela próxima, estou realmente pensando em rezar.