quarta-feira, 29 de junho de 2011

Falando Em Música Entrevista: Giovanni Caruso

É com um prazer imenso que eu informo, que, depois de quase 1 ano, a volta das entrevistas no Falando Em Música será com o talentoso, baixista e compositor Giovanni Caruso. Pra quem já se esqueceu ele foi um dos integrantes (o integrante, na minha opinião) mais importante do Faichecleres. Agora com a banda denominada de Giovanni Caruso e o Escambau, ele faz um som mais maduro e trabalhado, com influências de Sérgio Sampaio entre outras bandas.


F.E.M: Como surgiu a idéia do Giovanni Caruso e o Escambau e como foi coloca-lá em prática?

Giovanni Caruso: Então... quando saí dos faichecleres precisava pensar um trabalho novo, fui então fazer um "retiro" no Paraguay para colocar as idéias (que estavam desencontradas naquele momento) nos trilhos. Primeiro, saíram as músicas que estão no nosso primeiro disco. O lance da banda veio depois, primeiro juntei pedaços, canções, compus outras e fiquei isolado no meio do Paraguay gravando o que seriam as demos do "Acontece nas melhores famílias". Quando ficaram prontas, vim pra Curitiba e comecei a juntar a banda. Foi achar as pessoas certas, ensaiar e fazer, por fim, nosso show de estréia em 2009. Toda essa primeira parte de composição e gravação da demo foi em 2007 (ano que saí dos faichecleres). A banda só se concretizou em 2009 porque neste meio tempo minha mulher (a Loló) ficou grávida, daí a prioridade acabou óbviamente virando outrae resolvemos ter o bebê junto a família dela, no Paraguay (mais uma vez).




F.E.M: Você nasceu no Rio Grande (mais especificamente na Praia do Cassino) no Rio Grande do Sul. Como foi essa saída da cidade pequena pra cidade grande? Foi planejada essa mudança?

Giovanni Caruso: Mais ou menos. Tava rodando no colégio, minha mãe já morava aqui. O Tuba também. Foi foda. Sair da praia sempre é foda acho, mas abriu muito mais espaço pra encaminhar melhor o lado artístico.



F.E.M: Como começou seu interesse por instrumentos, se apresentar, etc? Teve alguma influência familiar?

Giovanni Caruso: Sempre tive em casa, tinha 5 anos e estudava ouvindo os ensaios do Ataque Epilético que era a primeira banda dos meus irmãos, vivia no meio daquele bando de punks e carecas. Depois vieram outras fases como blues e Rock'a'Billy e eu continuei acompanhando a evolução da gurizada ali de perto até que resolvi formar minha banda tocando o que eu gostava que era beatles e rock '50. Era muito bom ficar ali no meio do ensaio daqueles punks todos.



F.E.M: Quais são as suas influências nas composições?

Giovanni Caruso: Atualmente fico à vontade para te responder que são influências ilimitadas, pois de um tempo pra cá tudo de bom que venho ouvindo acaba agregando algo para as minhas composições de certa forma. Se eu fizer um resumo posso citar artistas de música que tenham (talvez) influenciado mais como
como Sui Generis, Erasmo, Sergio Sampaio, Kinks (sempre), Wings, Chico Buarque, Raul, Cartola, enfim, mais uma paulada de gente. Sem contar os que estão na alma desde a adolescência como os Beatles e todas aquelas bandas maravilhosas dos '60, a música negra USA pré-'70, etc.



F.E.M: Além do Faichecleres e da sua banda atual, quais outras bandas você já participou? Tem mais algum projeto rolando?
Giovanni Caruso: Procuro ganhar a vida fazendo som e por isso tenho que me virar, toco toda semana com uma banda blues que se chama Tony Caster & Hard Bone's Blues, faço baixo também com Eder & seus Problemas (Punk Blues), faço violão e voz sozinho onde role fazer,tenho os "Giovanneides" que é uma dupla com o ex-compositor do Pelebrói não-sei onde tocamos nossas músicas velhas, faço umas fossas e castelhanas com a Paraguaia sempre que possível, acho que é isso.



F.E.M: Você acha que pra uma banda tentar algo, é preciso vir pra São Paulo ou pra alguma outra capital? Por que você acabou voltando pra Curitiba depois de morar 2 anos em SP?

Giovanni Caruso: Antigamente era imprescindível, hoje com a divulgação pela internet já nem tanto. Dá pra sobreviver longe, mas sem tanta evidência. Acho que SP continua sendo o melhor caminho. Provavelmente sempre será aqui no brasil. Saí dai porque saí dos faichecleres, não fazia mais sentido estar ai naquele momento.



F.E.M: Você voltaria a morar em São Paulo?

Giovanni Caruso: Não descarto uma volta, inclusive conversamos muito sobre isso no Escambau, acredito vá rolar uma hora, eu particularmente tenho muita vontade de voltar.



F.E.M: Há planos para o segundo disco do Giovanni Caruso e o Escambau? Quando será lançado? E como será chamado?

Giovanni Caruso: Ta pronto já, mixando o final. Será lançado no início do 2ºsemestre. O nome é segredo ainda hehe. Estamos "hibernando".



F.E.M: As bandas independentes nacionais estão cada vez mais em destaque. Qual bandas que você curte e recomenda para as pessoas que ainda são bitoladas na cena internacional?

Giovanni Caruso: Olha, aqui em Curitiba, estamos passando por uma fase muito boa no underground, tem muita coisa boa rolando depois de uns 5 anos de miséria e tenho muito orgulho de comentar sobre isso atualmente. Acredito que deve estar rolando muita coisa boa pelo brasil inteiro nesse momento. Daqui, poderia citar o Chucrobilly man, Trem Fantasma, Crocodilla, Chuvas, Rockstead City Farm e mais um monte de gente, escolhi esses por serem trabalhos mais recentes, gente que apareceu por agora, mas tem muita coisa boa rolando longe dos olhos e ouvidos dos meios mais abrangentes de cultura. De sp a minha favorita são Os Haxixins.




terça-feira, 28 de junho de 2011

E o fail do dia vai para: SWU

Há poucos minutos atrás, a produção do SWU confirmou os seguintes shows para a segunda edição do festival:  Megadeth, Snoop Dogg, Damian Marley, Black Eyed Peas e Peter Gabriel. E Neil Young que era uma atração muito esperada, vai pro SWU não para se apresentar, mas apenas para participar de um fórum sobre sustentabilidade que será realizado no dia 12 de novembro. O que eu aposto que deixou todo mundo puto porque além do Neil Young não tocar, as primeiras bandas confirmadas são, como eu posso dizer, ruins, tirando o Snoop Dogg.



Calma, tem mais...

Ao perguntarem do preço dos ingressos para o Eduardo Fischer, ele deu exemplo "só um ticket para o show da Hannah Montana custa R$400." E também disse que os ingressos serão em média o preço da edição passada.

Caros leitores deste blog, sejamos realistas. Se o Brasil teve ou têm bons festivais, os nomes de tais são Tim Festival e Planeta Terra. Acreditar que SWU ou Rock In Rio tenha atrações como o Planeta Terra, é uma ilusão. Agora se o Gogol Bordello, Arctic Monkeys ou Black Keys confirmar no SWU, eu aguento o Megadeth ou Black Eyed Pead tranquilo. (É o preço que se paga - além do ingresso)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Shows do Final de Semana - Jun #4

Sexta-feira, 24 de junho: 
Charme Chulo no Espaço Mog - Campinas, SP
Preço: R$25,00 - consumação R$30,00
Horário: a partir das 22h. 
Mais informações: http://www.espacomog.com.br/agenda/

Fernanda Takai no Sesc Pinheiros - São Paulo, SP
Preço: R$32,00 (inteira), R$16,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$8,00 (trabalhador no comércio e serviçoes matriculado no SESC e dependentes).
Horário: 21h.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=195381

Marcelo Camelo no Sesc Santo André - Santo André, SP
Preço: R$20,00 (inteira), R$10,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$5,00 (trabalhador no comércio e serviçoes matriculado no SESC e dependentes).
Horário: 21h.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=195752


Sábado, 25 de junho:
Apanhador Só no Espaço Mog - Campinas, SP
Preço: R$25,00 - consumação R$30,00 
Horário: a partir das 22h 
Mais informações: http://www.espacomog.com.br/agenda/

Del Rey no Studio SP - Sâo Paulo, SP
Preço: R$30
Horário: porta 23h - show 1h
Mais informações: http://www.studiosp.org/at_20110625.php

Fernanda Takai no Sesc Pinheiros - São Paulo, SP
Preço: R$32,00 (inteira), R$16,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$8,00 (trabalhador no comércio e serviçoes matriculado no SESC e dependentes).
Horário: 21h.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=195381


Domingo, 26 de junho:
Fernanda Takai no Sesc Pinheiros - São Paulo, SP
Preço: R$32,00 (inteira), R$16,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$8,00 (trabalhador no comércio e serviçoes matriculado no SESC e dependentes).
Horário: 18h.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=195381

Test e o Inimigo no CCSP - São Paulo, SP
Preço: R$10,00.
Horário: 18h.
Mais informações: http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao_musica_popular.asp

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Adultos Fluorescentes.


Numa primeira olhada, pensei que Suck it and see, nome do último disco do Arctic Monkeys, fosse baixaria. Senão baixaria, pelo menos algum comentário ofensivo, do tipo, "Chupa essa manga!". Enfim, sem divagações. Não era nada disso.

Em uma entrevista, o próprio Nick O'Malley, simpático baixista da banda, explicou que Suck it and see é uma expressão, mais ou menos equivalente à "Arque com as conseqüências"

(Desculpem minha ignorância, aqueles que já sabiam, mas para mim, não há muita diferença entre "Arque com as conseqüências" e "Chupa essa manga". Cabe discussão.)

Chega disso, vou contar logo a história:

Eu e mais um amigo, discutindo sobre qual seria o futuro do nosso gosto musical. Porque uma coisa é olhar pra trás, notar que se ouvia Sandy e Junior e dizer "obviamente era coisa de criança". E outra, muito diferente, é olhar pra trás, ver The Killers e Franz Ferdinand (que podem até ser coisa de adolescente, mas tem seu charme). Dava um certo desgosto pensar que daqui há alguns anos, olharíamos para bandas como essas e pensaríamos "coisa de criança".Afinal, nossos pais ouviram Beatles e Stones na adolescência.

Coisa de criança?

(Pelo amor de Deus, não pensem que estou comparando The Killers com Rolling Stones. Ainda estou o lúcido. Ainda.)

Chegamos à conclusão de que uma banda, pra acompanhar nossa vida pra sempre, teria que amadurecer à medida que seus fãs amadurecessem, mais ou menos como os Beatles fizeram entre o With the Beatles e o Sgt. Peppers. E amadurecimento vem com o tempo, com experiência, com ousadia e segurança. É um processo difícil, e como eu já disse em algum outro post, a indústria não perdoa erros.

Nós também não, sejamos francos.

Tanto não perdoamos, que não pensamos duas vezes antes de xingar qualquer banda que não alcança as expectativas num disco novo. E parece que no momento que o primeiro single é lançado, já sabemos se aquela banda irá nos acompanhar como trilha sonora de nossas vidas, até o momento em que só tivermos ouvidos pra jazz, samba e música clássica. E se quer minha opinião, quase sempre estamos certos.

Porque o Fall Out Boy não agüentou a pressão e preferiu cometer suicídio à tentar fugir de seu rótulo 'emo' (seguindo os passos do Blink 182), Snow Patrol e Death Cab for Cutie preferiram conquistar as novas gerações de adolescentes em vez de manterem os fãs antigos e o Weezer se enfiou na toca, pra Deus sabe quando sair. E os Strokes, coitados, até tentaram, mas pegaram o caminho errado na encruzilhada. Um caminho muito errado, por sinal.

E se numa primeira olhada Suck it and see parecia baixaria, numa atenta e cautelosa segunda olhada, é o nome perfeito. Não é só o nome do quarto, melhor e mais maduro disco do Arctic Monkeys. É um recado, um sarro muito bem tirado, direcionado a todas essas bandas que tentaram ser e não foram.

Porque se tem uma coisa que todos nós sabemos, inclusive Alex Turner e sua trupe, é que eles não são como estas bandas já citadas. O Arctic Monkeys vai ficar pra sempre, vai ser a trilha sonora de nossas vidas até só termos ouvido para jazz, samba e música clássica. Sendo assim, para todas as bandas que ficaram pelo caminho, eles próprios deixam a mensagem: "Nosso lugar no futuro está garantido. Vocês arquem com as conseqüências."

Ou, se você preferir, o recado é um simples e sonoro "Chupa essa manga!"

Suck it and see.

E se alguém quiser alcançá-los como maior banda de rock da atualidade, é melhor se apressar. Quem avisa, amigo é.

Tempos de feitiçaria!

                                                                        Foto: Marcelo Soares

// Composições inspiradas em Edgar Alan Poe, pitada de Mautner, Dalí e guitarradas influenciadas de Hendrix. Sem esquecer, é claro, do viés lírico mais famoso da cidade do Recife. Júlio Castilho é um artista que se consagrou nos brios independentes da Veneza brasileira. O Falando em Música entrevistou o artista, que se inspira em shows e performances intervencionistas para tirar você da cara! E só para lembrar, a banda do Feiticeiro Julião, está cada vez mais próxima de São Paulo...

Falando em Música // Conta um pouco a história dos teus projetos.
Feiticeiro Julião // Passei muito tempo produzindo e tocando com a Malvados Azuis (junto a Henrique, baixista e irmão sanguíneo). Tivemos mais de 4 anos de banda mas pouco alcance midiático. Além disso, a dificuldade para lidar com músicos que encaram a atividade como hobby fez com que a banda mudasse mil vezes de integrantes, esfacelando assim sua identidade. Descobri muito sobre produção e decidi investir nessa persona que hoje me traz entrevistas como essa e tocadas em picos pesados. Também faço hoje em dia a guitarra na Comunidade Azougue: lançamos um disco de carreira esse ano.

De onde nasceu o Feiticeiro Julião?
Ele nasceu como uma entidade livre de rigores morais, que pudesse expressar no palco muita escrotice e exibicionismo - definidas geralmente pelo público como performance. Além disso, uma atenção especial ao lado marketeiro do produto (que eu produzo agora em parceria musical com Vini Valença) é um dos fatores responsáveis pela repercussão atingida no pouco tempo desde o lançamento do primeiro EP - Manifestado (final de 2010) - que veio junto com o Manifestodomanifestado (que ainda aguarda ser publicado mas está contido nas músicas que tocamos com lemas como o "Intelecto de suor, pensar rupestre a pele" e o "antimaldídoto"). Além de Vini, temos na banda músicos sagazes como Will Bantus (saxofone), Toninho Marques (bateria) e Rinaldo Souza (percussão) que acrescentam todo um suingue e personalidade ao show e com quem aprendo muito, especialmente sobre improvisação.

Quais são as inspirações dessa manifestação do Feiticeiro?
A inspiração maior para a postura xamanística (ou seja lá como definam) veio de Screamin Jay Hawkins e Arthur Brown. Também Salvador Dalí, Jorge Mautner, Secos & Molhados e Hendrix foram ícones tanto visuais como sonoros do nosso som.

Como foi tocar no Abril Pro Rock 2011?
Tocar no Abril Pro Rock talvez tenha sido o auge até agora dessa carreira. "Vencer" um concurso com mais de 160 bandas foi uma missão gigante principalmente pela questão dos votos do público. Sorte/ atenção minha que fui um dos primeiros a me inscrever então comecei somando votos desde cedo pedindo via facebook/twitter que os brothers votassem diariamente. Ir pra a final e ser escolhido por uma comissão julgadora importante com gente como Miranda, Andreas Kisser e Zé Teles (além do próprio Paulo André) foi uma prova de que o produto do nosso trabalho é digno de qualidade nacional.

Qual sua relação com o mundo das ideias?
Estudo bastante sobre Literatura - o que termina envolvendo Filosofia. Edgar Alan Poe, uma referência também ao compor o Feiticeiro Julião, tem estudos intensos sobre a forma, a métrica e o universo. Jorge Mautner, que além de músico tem uma obra literária muito vasta e antiga, é um dos pilares de minha postura com seu amálgama e materialismo místico. Para mais detalhes procurem sua Mitologia do Kaos. Porém, não acredito no intelectualismo, na prisão às idéias pois através da vivência podemos “experienciar” tudo o que os autores colocam nos livros. Sou anti-acadêmico por valorizar o instinto.

É possível fazer fama tocando o que ama ouvir?
É possível caso esteja atento a como alcançar o público alvo. Reclamar que não é chamado pra tocar e que ninguém vem produzir o seu som não é a saída para que as coisas funcionem. Ter um material de qualidade (mesmo com pouco orçamento) é possível, mas pra isso é preciso foco e direção - que no caso de bandas autorais pequenas deve vir dos próprios integrantes. Também avaliar quais composições estão maduras para serem publicadas e quais precisam de mudanças é essencial. Gravar uma demo com 3, 4 músicas bem trabalhadas é mais interessante do que gravar um disco inteiro solto, sem consistência. Também a questão do audiovisual é essencial hoje. Profissionais com equipamento bacana e boa vontade (como Bruna Coutinho, cineasta e fotógrafa recifense) ajudaram muito nas recentes conquistas do Feiticeiro Julião e isso não é impossível de se conseguir. Quanto à fama (ou repercussão), ela não virá do trabalho de terceiros, mas do próprio artista ou grupo e de como se empenha e sabe desenvolver sua imagem nos meios gratuitos e "democráticos" como a internet.

Quando foi que você despertou para a música?
Despertei para a música quando criança/ adolescente, empolgado também com a questão visual. Também escrevo há anos, o que me ajudou a ter um material mais profissional hoje em dia e facilidade para mexer com palavras. Chico Science (para citar algum ídolo local) foi um dos que despertou essa vontade de produzir quando eu era criança. A performance do The Who em Woodstock também me fez querer encarar a coisa de maneira definitiva na vida. Estar no palco é um dos focos.

Você usa o mundo interior nas suas composições?
Esse interior é a base das composições. Aquela introspecção e a sensação de que há algo dentro que precisa ser exposto é forte e isso precisa tomar uma forma pra que se torne universal e não meramente um desabafo pessoal cujo valor estético seria mínimo. As composições estão voltadas para os ouvidos também do público, pois além de músicos também somos ouvintes do que produzimos e pode soar enfadonho algo que não esteja atento à questão da audição, limitando-se ao sentimento dos que estão tocando sem alcançar os que querem apreciar. Quando danço não é só pra mim, é pra ser uma imagem, mas é basicamente o que tenho dentro pra mostrar (por vezes sexual, fálico, mas sem malícia). O mesmo posso dizer dos que tocam junto com o Feiticeiro Julião.

Como é tirar os outros da cara?
“Vou Tirar Você da Cara” é um tema que ouvi do Fábio Juvenil (Dunas do Barato, Canivetes) e tomei pra mim, adicionando o trecho que fala do “melada de se divertir”  pois tem tudo a ver com o público recifense, que apesar de receptivo é bem travado, estático, reprimido. As pessoas ficam naquele conforto de voyeur de só assistir e esquecem de curtir, de se entregar. Não é a toa que muitas vezes ouço "queria tanto ter dançado, só não consegui soltar". Tirar da cara - dessa careta estática - é necessário e é certamente meu objetivo principal. Também a questão dos alucinógenos e da erva santa está envolvida pois se bem utilizados podem ser uma ferramenta para o alcance de outro estágio de consciência onde os rigores morais que citei no começo da entrevista são deixados de lado e pode-se viver, liberto, algo realmente único.

Como tu vês o rock do Recife atualmente?
Não creio que haja uma identidade comum entre a maioria das bandas - o que é um produto positivo da muita multiculturalidade local (risos). Temos bandas novas bacanas chegando aos holofotes, isso é uma evolução. Talvez o que falte é apenas uma ajuda mútua entre os músicos. Aqui não há muito o costume de um divulgar o trabalho do outro. Talvez por medo de perder o pouco espaço que nos é reservado e o público que não quer pagar pra assistir às bandas autorais em eventos de menor porte.

Existe alguma outra atividade que desperte uma manifestação cultural dentro de você?
Sim, vou me formar em tradução de inglês pela UFPE, focando em textos literários (especialmente tradução de poemas, o que requer uma vivência literária, pois não se trata apenas de trocar palavras como é o caso de muitas traduções técnicas). Além disso, sou um dançarino nato, o que incorporo também no palco. Também sou faixa preta em karatê (apesar de ter parado há alguns anos) o que também influencia no movimento corporal nos shows. Como falei anteriormente, também escrevo poemas (que vez ou outra terminam em música).

O que você pode dizer da atual concepção de mídia para o mercado musical?
O clichê das redes sociais não deve ser subestimado, pois fenômenos virtuais são lançados a cada dia com alcance de milhões de acessos. O difícil é manter no auge o que se conquista através de youtube, facebook, etc. Pra isso creio que é preciso uma maturidade artística e visão de mercado. Também a questão dos coletivos pra mim tem uma importância grande (faço parte do Lumo que é um coletivo de Recife integrante da Rede Fora do Eixo, de alcance nacional), pois envolve uma cadeia de profissionais de vários estados que podem auxiliar o grupo contanto que haja uma troca de ambas as partes. A questão das gravadoras já foi sublimada; ganhar dinheiro com venda de discos é só pros que vendem música pra novela ou tem contratos milionários. Divulgar e disponibilizar o som para o mundo inteiro via internet é a solução para que seu som tenha público.

Quais são os próximos passos do Feiticeiro?
Os próximos passos são lançar o primeiro disco de carreira que estamos gravando no Malunguim Studio e no Fábrica e fazer a primeira turnê para outro estado (no caso São Paulo, onde tocaremos no Festival Caipirorock e outros picos). Também um clipe está a caminho.





Glossário recifense:

Pico - lugar, ambiente;
Escrotice - diversão, doideira, sinônimo de ser algo legal e engraçado;
Tirar da cara - fumar um baseado, acender uma ganja.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Rios, pontes & overdrives, impressionantes estruturas de lama!

Boa tarde, meus queridos, como estão?

Meu nome é Felipe Dias, sou jornalista, cinéfilo, já toquei numa banda indie e tenho alguns projetos de música eletrônica. Não me considero DJ, mas sou um adepto da boa discotecagem. Não vim aqui para falar de mim e, sim, sobre a nossa nova coluna. A partir de hoje, o Falando em Música disponibilizará para vocês informações sobre o eixo musical independente de Recife, capital de Pernambuco.

De fato, o Recife é uma cidade renovada no âmbito musical. E nisso pode-se constatar a onda manguebeat que a cena viveu na década de 1990. Porém não foi com Chico Science & Nação Zumbi que tudo começou. Muitos se esquecem de uma época recifense marcada pelo udigrudi, em meados da década de 1970, onde emergiram artistas do teor do Ave Sangria, Alceu Valença ou, até mesmo, Lula Cortês. A peculiaridade do rock pernambucano sempre esteve atrelada às raízes da cultura, do toque regionalista que tanto caracteriza os riffs mais pesados ou, talvez, as linhas de baixo mais improvisadas, somando a letras poderosas.

O tempo veio e o sustentáculo dessa penca de bandas teve um volume muito baixo de produção. A Ave Sangria de Marco Polo Guimarães, vocalista e compositor, foi para um hiato interminável e se perdeu nos bares e noites boêmias da Rua da Moeda, no Bairro do Recife – ou Recife Antigo, como preferir. Houve tentativas de retorno dos integrantes, mas todas falhas, infelizmente. Com o fim da década e do hiato de produções, 1980 só despertou ao final. Havia esperança nos subúrbios. De Casa Amarela, maior bairro da cidade, surgia algumas sutilezas pontuais. Principalmente num bairro dentro do bairro: o Alto José do Pinho. Lá, no final de 70 e começo de 80, o manifesto artístico era abundante. Havia bandas de punk, rock, hardcore, maracatu, frevo, rap e hip hop, enfim, uma variedade. Os fanzines eram distribuídos, garotos se juntando para beber vinho e escutar “rock pesado”, tidos como “maconheiros vagabundos”.

SS-20, Matalanamão, Faces do Subúrbio, O Verbo, só para citar algumas variações do bolo do Alto. Não se pode esquecer a mais pesada: Devotos do Ódio, que depois ficou conhecida apenas por Devotos. O nome da banda, no início da carreira dos caras, foi uma referência ao livro homônimo do escritor maranhense José Louzeiro, que gira sob um tema recorrente e histórico de Pernambuco: invasões do Movimento Sem Terra (MST). Cannibal, Cello e Neílton lutaram contra tudo e todos. Mas a luta e o ódio eram pacíficos, eram punkrockhardcore. E eles se conectavam, daí surgindo uma era propícia para a retomada da música pesada recifense: Sheik Tosado, Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e o manifesto do Caranguejo.

Pois é, amigos, o apresentador China, de sotaque peculiar na MTV foi o antigo vocalista da banda Sheik Tosado. No álbum “Som de Caráter Urbano e de Salão”, é clara uma forte influência de uma geração. Assim como no “Da Lama ao Caos”, de Chico Science & Nação Zumbi, que mesclava as guitarras pesadíssimas com o som do maracatu. Devotos também marcava presença, mas um pouco antes desses dois, lançava o “Agora tá Valendo!”. E tava valendo, mesmo.

Bem-vindos ao mundo da música recifense, amigos. Uma nova era em reflexo a tudo que já foi feito. E tudo que virá! A música da Cidade do Recife tem algo notável: sua peculiaridade. Ao longo das postagens, mostrarei-as de forma a divulgar também os melhores artistas da terrinha. Por enquanto: