Não dá pra falar que o Brasil não recebe shows internacionais. Recebe, e muitos. É bem verdade que, aos pés do Radiohead, na enlameada Chácara do jockey, em março de 2009, vi uma legião de fãs saudar a entrada da banda aos gritos de "FINALMENTE", reclamando dos vinte anos que o grupo demorou para aparecer. Mas o Radiohead era uma das poucas que nunca havia pisado em solo brasileiro. Não temos do que reclamar.
Assim como 2009, 2010 vem sendo um ano cheio de shows fantásticos, com bandas muito conhecidas e artistas nem tão populares assim. Aliás, um dos maiores responsáveis por esse batalhão de shows é o festival que acontece nos dias 9, 10, e 11 de outubro. Sabe qual é, não sabe? Isso, esse mesmo...
Aquele tal de SWU.
No papel é fantástico, só o jeito como foi anunciado já anima: O Woodstock brasileiro! É pra ser um show sobre sustentabilidade, com bandas maravilhosas! Desde os consagrados do Rage Against the Machine e The Mars, até a genial Regina Spektor e os Kings of Leon, passando por boas atrações brasileiras como o Capital Inicial, o reencontro de Camelo e Amarante com os Hermanos e o ótimo Teatro Mágico. E pra dar o tom da festa, Dave Matthews e sua trupe vem comemorar o início das férias com um último show no Brasil. Como eu disse, perfeito.
Até analisarmos o preço.
A pista normal, sabe, aquela que te deixa bem longe do palco mesmo quando se está na grade? Bagatela: 210 reais. (Aliás, prefiro não falar dessa tal de pista Premium, ela faz parecer que quem é muito fã é, necessariamente, muito rico. Mentira.). E olha que eu fui um dos poucos que reclamou.
"Ah, poxa, 210 reais para assistir a um dia inteiro de shows, nem é tão caro assim!". De fato, meu caro amigo chato que tem dinheiro para ir ao SWU, curiosamente o festival não é dos mais caros. O que me entristece é termos chegado nesse ponto. Nos acostumamos com preços absurdos para vermos nossos heróis no palco, tanto que qualquer duzentos reais pode ser confundido com uma pechincha. Lembro-me do último show do Bob Dylan no país. Preços astronômicos, que batiam na casa dos 300 reais os piores lugares. Fiz a maior birra do mundo, mas não fui.
Foi um protesto silencioso e masoquista.
Masoquista porque me doeu não assistir o Bob Dylan. Mas protesto, sim, porque me nego a dar essa quantidade de dinheiro para as empresas que promovem tais shows. Ainda se todo o lucro fosse para o artista eu poderia pensar, mas sabemos que não é bem assim que funciona. O artista, aliás, fica com uma das menores fatias do bolo.
Não que não ganhem muito, claro. Sem hipocrisia.
O fato é que não temos muita escolha. O jeito é esperar bandas com o Ok Go, que vieram tocar em São Paulo nesse mês de setembro, num lugar pequeno e com preço acessível. São raros os momentos, e quando não acontecem, temos que nos sujeitar aos preços. Por exemplo, está quase certo que Paul McCartney virá ao Brasil ainda esse ano, e não tenho dúvidas de que os preços serão exorbitantes e fantasmagóricos. Mas é Paul McCartney, tenho que estar lá, mesmo se tiver que vender minha casa. E você que lê, se também for fã, irá, independente do preço. Porque nosso amor pela boa música não se mede, e fanatismo não se discute, não é mesmo?
Mas um amigo meu, aquele mesmo amigo chato que não reclama do SWU, lembram? Pois é, ele me perguntou, há mais ou menos um ano, com uma alegria que não dava pra medir:
"E aí, vamos no show do Mcfly??"
Ok. Aí já é pedir demais.