Confesso que esperei ansiosamente pela quinta feira última. Pontualmente, às dez horas da noite, estava eu sentado na frente da TV com uma caixinha de amendoins no colo e um copo de refrigerante na mão. A MTV anunciava triunfante o início do VMB 2010, enquanto eu dava o primeiro gole na minha bebida gasosa.
No fundo, eu sabia que aquele ia ser o primeiro de muitos goles que me desceriam totalmente tortos pela garganta.
A edição 2010 do prêmio juntou o que há de mais pop no mundo atualmente e tentou mostrar tudo em duas horas, incluindo apresentadores de TV de outras emissoras. Isso ocasionou certos incômodos, ou, no mínimo, situações inusitadas. Raul Gil e Roberto Justus foram ovacionados pela platéia quando subiram ao palco, e Rodrigo Faro (talvez o apresentador mais pop do momento) apareceu por longos dois minutos para uma pequena esquete. Isso sem falar na união de Palmirinha Onofre com os colírios da revista Capricho para o anúncio da entrada do Capital Inicial no palco. Qualquer coisa de épico. Épico e vergonhoso.
Fresno abriu a batelada de shows, querendo ser Muse. O Restart não podia deixar de aparecer, levando o público ao delírio. Uma banda formada por integrantes da chamada 'nova geração do rock nacional' subiu ao palco para cantar Charlie Brown Jr. e Raimundos, também agradando a platéia. Mas foi só. Parece que o Capital Inicial não levanta mais as novas gerações, que o Ok Go não é muito conhecido no Brasil e que a genialidade de Otto não é bem compreendida pelas massas.
A entrega dos prêmios foi o que a maioria esperava: ganharia quem tivesse maior aceitação dentre os internautas, uma vez que o vencedor era decidido em votações na internet. Aliás, o artista mirim Justin Bieber não podia deixar de ser citado. Levou o "Melhor artista internacional" em cima da Lady Gaga. Pois é, tem competição até entre a ralé do pop.
Mas voltando, tendo em vista a aceitação na internet, é claro que o Restart era favorito. Tiro e queda. Levaram todos os cinco prêmios que concorriam: Banda pop do ano, hit do ano, revelação, clipe do ano e artista do ano. Artista do ano.
Essa ninguém engoliu.
É bem verdade que a platéia gritava "Pitty" com todas as suas forças no momento em questão, e não algo mais nobre, mas pelo menos estava gritando alguma coisa. Quando Restart foi anunciado como "Artista do ano" ninguém teve dúvidas e se pôs a vaiar a plenos pulmões. Eu, no sofá, quase engasguei com tamanha nobreza no ato, e por um momento pensei que nem tudo estava perdido na música brasileira.
Ledo engano.
Os coloridos subiram ao palco para receber o troféu e anunciaram: "Obrigado a quem votou, e obrigado a quem vaia, vocês fazem a gente crescer!". Até aí tudo bem, eles tinham que arrumar um jeito de sair pela tangente da situação constrangedora. O problema maior foi a entrevista concedida à apresentadora Marina Person na saída do evento. Quando indagados sobre a sensação de ser considerado "Artista do ano" um dos integrantes respondeu:
"Foi uma surpresa, acho que nem merecíamos esse prêmio, estávamos concorrendo com tanta gente que somos fãs... o Skank, por exemplo... a galera do Nx Zero, a Sandy! Meu deus, ganhamos da Sandy!"
Indignação por ganhar da Sandy?
Ouvi a declaração, dei o último gole no meu refrigerante, desliguei a TV e fui dormir ansioso para o VMB do ano que vem, porque pior que esse, torço, não vai dar pra ficar. E cabe agora a piada mais contada na internet nos dias atuais:
Tá na hora de dar um Restart na consciência, galera, que o futuro da música brasileira depende um pouquinho de cada um de nós.
o rock de empesários comanda os grandes meios de comunicação. Eu sinto pena das pessoas que ouvem essas coisas coloridas e ainda tem coragem de admitir em público
ResponderExcluirA Sandy é muito melhor que eles, por isso eles sentiram vergonha de ganhar dela
Adorei o texto e isso vai de encontro ao que eu penso. nessas horas ter aquela síndrome de underground faz bem
Em tempo:
faço parte da massa que não compreende a genialidade do Otto