segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Dia Depois de Amanhã

Já fui fã de Green Day, e digo 'já fui' do modo mais nostálgico que meus 17 anos permitem. Não parei de ouvi-los com afinco por algum motivo específico, somente me aconteceu, meu gosto musical me levou para outro lado. Mas sempre sobra aquele carinho contido.

Não mais ouvir não significa, nem de longe, não admirar. Correndo pelos canais da televisão, algum desses dias pré-show, me deparo com uma entrevista da banda. Billie Joe e sua trupe pareciam em sua melhor forma, dizendo que em seu show rolaria de tudo, e que era uma ótima chance que tinham de mostrar seus protestos para o Brasil.

Protestos?

Isso mesmo, protestos.

Porque não importa o que digam, o Green Day é uma das poucas bandas que conseguiu unir com perfeição engajamento político e cultura pop. Mesmo com os fãs mais aguerridos dizendo 'Credo, eles não são mais os mesmos, viraram uns emos...'

Eu nem sei direito o que são emos, então não vou gastar nem mais um parágrafo com eles.

Mas emos ou não, eu sei que o Green Day lançou um dos poucos discos da 'nova geração do rock' que dava um tapa na cara da sociedade. Isso certamente se perdeu no rock e na música atual. Não dá pra generalizar, nunca, mas é fato que, segundo a mídia, ser POP é sinônimo de ser 'bonzinho', e ser 'bonzinho' não é só não quebrar quarto de hotel nem falar palavrão. Ser bonzinho é ficar quieto no próprio canto falando de amores, desamores e dinheiro.

Para colocar em prática essa ideologia, a indústria musical arranjou a fórmula mais infalível possível: transformar astros da Disney em ícones da música, e então, de uma hora pra outra, nossos rádios, TV's e prateleiras de discos (bem como sites de downloads, sem hipocrisia) estavam lotados de Justin Bieber e Miley Cyrus. E muitos outros, claro. Milhões de artistas mirins, com uma platéia jovem avassaladora.

É bem verdade que, a maior parte dessa platéia é composta por pré-adolescentes que ainda não chegaram aos 14 anos. Mas mesmo os jovens entre 15 e 25 anos, que outrora eram os Paralamas e os Titãs, não tem uma representação musical totalmente engajada. Aliás, a maioria dessas pessoas nem ouve rock, suspeito.

Porque só aqui em São Paulo, nos lugares que freqüento (que não representam nem um décimo da cidade) abriram pelo menos dez casas de pagode no último ano. Todas igualmente lotadas.

Alguém já viu pagode falar sobre política, sociedade ou protesto?

Pois é. Nem eu.

E mesmo que Bieber e Cyrus seja coisa de criança, pergunte a qualquer um que mudou o mundo um dia, o que ouvia na infância. Garanto a vocês, que mesmo em seus 14 anos, essas pessoas ouviam algo próximo ao que o Green Day faz até hoje (sem querer compará-los aos Pistols ou ao Pink Floyd, claro).

Não que eu vá mudar o mundo por ouvir Green Day. Longe disso.

Mas minha nostalgia é válida, penso. Não saudade de escutar as músicas da infância, mas saudades de uma época que não vivi, na qual música, na sua mais pura forma, não era só arte pela arte.

Uma época na qual música era arte pela arte, pela sociedade, por direitos. Uma época na qual música era arte pela vida.

Desliguei a TV após a entrevista, com uma pontinha de orgulho e medo. Porque toda geração tem medo que a próxima destrua tudo o que a sua própria fez pela música.

Mas dessa vez, nem a minha fez muito. Pela próxima, estou realmente pensando em rezar.

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