quarta-feira, 30 de maio de 2012

Há Tempos, Legião Urbana...


Confesso que cheguei tarde. Voltei correndo da faculdade, ansioso para não perder mais nada do Tributo à Legião Urbana, que acontecia aqui do lado de casa, no Espaço das Américas, zona oeste de Sampa. Confesso também que já estava um tanto desapontado, pois estava sabendo que havia perdido "Tempo Perdido" e "Fábrica", provavelmente minhas duas preferidas da Legião, que haviam sido tocadas logo no início do show. Quando liguei a tevê, um apático Dado Villa-Lobos lançava os primeiros acordes da improvável "Esperando Por Mim", nona música de uma apresentação que viria a ter vinte e seis.

Confesso ainda que, quando a música terminou, fiquei feliz de ter perdido minhas preferidas. Era possível que, naquele momento, ou elas perdessem todo o encanto, ou me trouxessem uma dose intratável de vergonha alheia.

Wagner e Dado, na inglória tarefa de tocar Legião sem Renato Russo.
O ator Wagner Moura liderava os vocais, um dia pilotados pelo inigualável Renato Russo. E quando digo "inigualável", tiro qualquer dose de fanatismo: Renato era único, não por ser o melhor músico ou letrista que o Brasil já teve, e sim por ter um carisma incomparável, uma imagem já consagrada e, principalmente, uma voz potente. Carisma o ator tem de sobra, mas sua imagem, ainda que bem construída, rendeu piadas por parte do público: Mais de uma vez foi possível ouvir a galera gritando "Uh, é Capitão!", em alusão a seu personagem mais famoso.

E, bom, em relação à voz... Esta passou longe do ideal.

Tudo bem que o show de ontem era muito mais emoção do que técnica, e emoção Wagner Moura mostrou de sobra. Remexeu-se no palco, pulou e tudo mais. Mas cantou mal, muito mal. Melhorou um pouco depois de tirar o retorno do ouvido, mas não salvou a apresentação. "Ainda é Cedo" soou estranhíssima, e "Há Tempos" ainda pior. É bem verdade que o público não estava se importando com isso. Cantava a plenos pulmões todas as canções, e muitas vezes encobria o vocalista. O que não era de todo ruim.

Às vezes, a afinação do coro era muito mais aceitável.

Porém, alguns aspectos do show nem este coro devoto entendeu. Uma versão acústica e sem sal de "Geração Cola-Cola", cantada por Dado Villa-Lobos e salva pela gaita de Clayton Martins, do Cidadão Instigado. Em seguida, um deslocado cover de "Damage Goods", da Gang of Four, com participação de Andy Gills e Bi Ribeiro. A partir daí, uma série de hits, que culminou em "Perfeição". A banda saiu do palco, e voltou para o "Bis", e mais uma bizarrice: A fraca "Antes das Seis", apresentada num momento em que todos esperavam algo como "Eduardo e Mônica", "Por Enquanto" ou "Faroeste Caboclo".

"Giz", "Pais e Filhos" e "Será" fecharam a noite. Bonfá e Dado pareciam felizes de encerrarem o show. Felizes por o legado de Renato Russo conter um misticismo tão grande, que transcende qualquer técnica ou simpatia dos dois ex-integrantes. E Wagner Moura... Bom, a tarefa não era fácil. O ator/cantor estava lá, exercendo papel de substituto e celebridade ao mesmo tempo, de modo que alguns pareciam tão extasiados de vê-lo frente a frente quanto de ouvir Legião ao vivo.

Talvez fosse melhor ter feito como n'O Baú do Raul', homenagem ao Raul Seixas, no qual gente de todo tipo se apresentou, de Afroreggae a Zélia Duncan, passando por B-Negão e Marcelo Nova.

O risco era menor, e o resultado, provavelmente mais interessante.

A Legião Urbana, gostem ou não, vai ter pra sempre uma importância histórica no cenário musical brasileiro. Foi importante para o surgimento do nosso rock, ousou em suas letras e marcou uma geração. Mas o show de ontem nos escancarou uma verdade, que todos nós custamos a aceitar:

Está na hora de pararmos de cultuar falsos deuses. Renato Russo morreu, a Legião acabou, e o rock dos anos 80 já está com trinta anos. Chega de citar Paralamas e Titãs numa discussão sobre o desgosto de ter Fresno representando o rock nacional. Chega de dizer que ninguém nunca vai chegar aos pés do Cazuza.

Chega de dizer que a Legião Urbana é a melhor coisa que nossa música vai produzir.

Este Wagner Moura diz: "Para a minha geração [esse show] é uma coisa muito importante". Temos que nos preocupar com os nossos próximos trinta anos, e quem vamos homenagear na próxima ocasião, e o que vai ser importante para nossa geração. Ou alguém espera um tributo de sessenta anos do surgimento da Legião?
                
Tédio. Com um T bem grande pra vocês.

Um comentário:

  1. esses tiozinhos que nasceram nos anos 80 superestimam a sonoridade dessa 'década perdida'.

    É aquela velha coisa: "na minha época que era bom...". Vc ainda não morreu, babaca nostálgico, sua época é agora FDP

    vc leu o que esse maluco da folha disse: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2012/06/01/pede-pra-sair/

    concordo com muita coisa do que ele disse

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