Confesso
que cheguei tarde. Voltei correndo da faculdade, ansioso para não perder mais
nada do Tributo à Legião Urbana, que acontecia aqui do lado de casa, no Espaço
das Américas, zona oeste de Sampa. Confesso também que já estava um tanto
desapontado, pois estava sabendo que havia perdido "Tempo Perdido" e
"Fábrica", provavelmente minhas duas preferidas da Legião, que haviam
sido tocadas logo no início do show. Quando liguei a tevê, um apático Dado
Villa-Lobos lançava os primeiros acordes da improvável "Esperando Por
Mim", nona música de uma apresentação que viria a ter vinte e seis.
Confesso
ainda que, quando a música terminou, fiquei feliz de ter perdido minhas
preferidas. Era possível que, naquele momento, ou elas perdessem todo o
encanto, ou me trouxessem uma dose intratável de vergonha alheia.
Wagner e Dado, na inglória tarefa de tocar Legião sem Renato Russo. |
E,
bom, em relação à voz... Esta passou longe do ideal.
Tudo
bem que o show de ontem era muito mais emoção do que técnica, e emoção Wagner
Moura mostrou de sobra. Remexeu-se no palco, pulou e tudo mais. Mas cantou mal,
muito mal. Melhorou um pouco depois de tirar o retorno do ouvido, mas não
salvou a apresentação. "Ainda é Cedo" soou estranhíssima, e "Há Tempos"
ainda pior. É bem verdade que o público não estava se importando com isso.
Cantava a plenos pulmões todas as canções, e muitas vezes encobria o vocalista.
O que não era de todo ruim.
Às
vezes, a afinação do coro era muito mais aceitável.
Porém, alguns
aspectos do show nem este coro devoto entendeu. Uma versão acústica e sem sal
de "Geração Cola-Cola", cantada por Dado Villa-Lobos e salva pela
gaita de Clayton
Martins, do Cidadão Instigado. Em seguida, um deslocado cover de
"Damage Goods", da Gang of Four, com participação de Andy Gills e Bi
Ribeiro. A partir daí, uma série de hits, que culminou em
"Perfeição". A banda saiu do palco, e voltou para o "Bis",
e mais uma bizarrice: A fraca "Antes das Seis", apresentada num
momento em que todos esperavam algo como "Eduardo e Mônica",
"Por Enquanto" ou "Faroeste Caboclo".
"Giz",
"Pais e Filhos" e "Será" fecharam a noite. Bonfá e Dado
pareciam felizes de encerrarem o show. Felizes por o legado de Renato Russo
conter um misticismo tão grande, que transcende qualquer técnica ou simpatia
dos dois ex-integrantes. E Wagner Moura... Bom, a tarefa não era fácil. O
ator/cantor estava lá, exercendo papel de substituto e celebridade ao mesmo
tempo, de modo que alguns pareciam tão extasiados de vê-lo frente a frente
quanto de ouvir Legião ao vivo.
Talvez
fosse melhor ter feito como n'O Baú do Raul', homenagem ao Raul Seixas, no qual
gente de todo tipo se apresentou, de Afroreggae a Zélia Duncan, passando por
B-Negão e Marcelo Nova.
O
risco era menor, e o resultado, provavelmente mais interessante.
A
Legião Urbana, gostem ou não, vai ter pra sempre uma importância histórica no
cenário musical brasileiro. Foi importante para o surgimento do nosso rock,
ousou em suas letras e marcou uma geração. Mas o show de ontem nos escancarou
uma verdade, que todos nós custamos a aceitar:
Está
na hora de pararmos de cultuar falsos deuses. Renato Russo morreu, a Legião
acabou, e o rock dos anos 80 já está com trinta anos. Chega de citar Paralamas
e Titãs numa discussão sobre o desgosto de ter Fresno representando o rock
nacional. Chega de dizer que ninguém nunca vai chegar aos pés do Cazuza.
Chega
de dizer que a Legião Urbana é a melhor coisa que nossa música vai produzir.
Este Wagner
Moura diz: "Para a minha geração [esse show] é uma coisa muito importante".
Temos que nos preocupar com os nossos próximos trinta anos, e quem vamos homenagear
na próxima ocasião, e o que vai ser importante para nossa geração. Ou alguém espera um tributo de sessenta anos do
surgimento da Legião?
Tédio.
Com um T bem grande pra vocês.
esses tiozinhos que nasceram nos anos 80 superestimam a sonoridade dessa 'década perdida'.
ResponderExcluirÉ aquela velha coisa: "na minha época que era bom...". Vc ainda não morreu, babaca nostálgico, sua época é agora FDP
vc leu o que esse maluco da folha disse: http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2012/06/01/pede-pra-sair/
concordo com muita coisa do que ele disse